Texto de leitor(a)- As flores amarelas e berrantes


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O escrito dessa semana, provindo da autora Eduarda Zilke, é autêntico, profundo, comovente e que nos transporta a ver as flores amarelas e ao pôr do sol de outubro. Devo ressaltar que o talento dessa mulher é grandioso, assim como, és sua alma. Muito obrigada por encantar .


            Nos dias tristes, ela não consegue crer que o sol ainda se põe no mesmo lugar que se punha nos dias felizes.
            Quando ela sente a luz do sol, incessantemente clara e quente, parece impossível que um satélite tão grande não consiga captar também a tempestade dentro dela a chuva que escorre pelo seu rosto. É um insulto que não tenha a decência de se esconder atrás de nuvens o mais rápido possível e, pelo contrário, faz um espetáculo e se retira lentamente, como um ator apaixonado que hesita em deixar o palco do primeiro teatro que faz.
            E que ironia que o pôr do sol, a amostra mais óbvia de que tudo continua igual fora do seu peito, seja justamente o momento em que você decide fazer tudo diferente.
            Ela ainda se lembra daquele pôr do sol de outubro que classificou como o mais bonito que havia visto. Nunca sabia a ordem das estações do ano, mas achava que era primavera porque haviam tantas flores amarelas que cada uma delas parecia um pequeno sol que também não tinha a fineza de não se exibir.



            Carlos Drummond de Andrade disse que nascem sobre nossos túmulos flores amarelas e medrosas. Mas aquelas flores, indecentes e incandescentes, não tinham medo. Eram as flores mais corajosas e, todas elas, cansadas de assistir, gritaram, naquele amarelo berrante, que você sempre fora forte o suficiente para deixar para trás.
            Todas as outras coisas gritavam o mesmo. A terra que entrava debaixo das unhas e a grama que se esgueirava entre os dedos dos pés. As árvores que faziam tapetes de sombra e as formigas que subiam pelas pernas. O cor de rosa e o laranja pintados em aquarela no céu e os cabelos que lhe faziam cócegas pelos ombros, embalados pelo vento que gritava e esperneava. Diziam que ela era forte o suficiente para deixar para trás.
            As flores não estavam mais lá no outro dia. E não eram os mesmos grãos de terra que lhe entravam nas unhas e a grama talvez agora fosse alimento das formigas, e talvez não fossem as mesmas formigas nem as mesmas cores no céu, talvez não fosse o mesmo vento e talvez alguns fios de cabelo já tivessem caído.
            E, mesmo assim, tudo gritava.
            Você é forte o suficiente para deixar para trás.

Um comentário:

  1. "Nos dias tristes, ela não consegue crer que o sol ainda se põe no mesmo lugar que se punha nos dias felizes."
    <3

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