Ela se transformou no que tanto queria, mas no fundo, nem sabia tanto desse
querer. Sem querer, ela se transformou no que tanto temia ou o que tanto fazia
ele temer. Ela se transformou no que escrevia mesmo sabendo que aquilo era só
mais uma ilusão que a poesia, às vezes, carrega consigo. Ela se transformou no
que dos outros ouvia que seria bom, mas não acreditava que mudaria alguma coisa.
Ela se transformou no que a fez abrir a porta de seu coração para alguém que a
fez acreditar que tudo seria melhor e aos poucos, como o vento nas dunas de
areia, foi carregando grão por grão, olhar por olhar até que de sua essência já
era, apenas, uma lembrança. Porém, o mesmo jeito que a fez abrir a porta a fez
fechar para se transformar. Ela se transformou em alguém que não tem medo de
rir de uma folha que caiu no chão. Ela se transformou em alguém que ama suas
fotografias do céu. Ela se transformou em alguém que não tem medo de atravessar
a rua sozinha. Ela se transformou em alguém que não tem medo do espelho. Ela se transformou no que queria ver no
espelho. Ela se transformou naquela que não precisa de alguém que ria das
piadas dela, pois, ela mesma ri. Ela se transformou em alguém que não precisa ouvir
palavras belas antes de ir dormir para conseguir acordar sorrindo. Ela sorri
por nada. Ela se transformou em alguém que assiste filme de romance comendo
pipoca de domingo. Ela se transformou em alguém que escuta música clássica nos
fones de ouvido. Ela se transformou na melhor amiga que ela queria ter. Ela se
transformou na pessoa que escreve sobre o amor, mas o amor que nutre pela
pessoa em quem se transformou.