É sobre gratidão - e os peixes que já pescamos

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-“Vai acender as velas para ver se consegue pescar algum peixe amanhã?”.
-“Não, estou acendendo pelos que já pesquei nos outros dias”.
Esse diálogo, tão simples, que aconteceu entre minha mãe e um amigo de nossa família me fez perceber o quão importante é a gratidão e quão esquecida ela está sendo, por todos. Inevitavelmente, acender uma vela para a santa dos pescadores para pedir uma boa pescaria é amplamente relacionado à fé, a religião a crença enrustida em uma santidade ou entidade superior. Porém, acender uma vela pela boa pescaria que teve independe do que cada um acredita, pois, transforma-se num beliscão para acordar desse mundo negativo e tóxico em que vivemos e que não agradecemos e se aprofundar num espaço em que a palavra obrigada é muito mais dita que “desculpa” ou “por favor”. Eu cresci com o ensinamento de que todas as “palavras mágicas” são importantes e entre elas não há uma hierarquia. Entretanto, confirmo que isso está parcialmente correto. Somos ensinados a agradecer, na infância até obrigados a dizer obrigado, a agradecer um presente, agradecer um elogio, agradecer a alguma atitude um pouco fora da normalidade. Mas, por que dizer obrigado tornou-se tão verossimilhante com o outro significado da palavra? Por que agradecemos por obrigação  e não pelo coração? Com sinceridade. O muito obrigado já foi muitas vezes sufocante. O muito obrigado já foi muitas vezes sufocado. E tenho uma teoria para isso.

 Desde pequenos, aprendemos muito mais com o exemplo de palavras do que de atitudes. Fale “muito obrigado, mesmo não gostando do presente”, e acaba sufocando a verdade do agradecer, acaba escondendo o seu real sentido. Não agimos com gratidão, agimos com desespero, agimos rotineiros. Agradecer é rotina, mas a gratidão é ausente. Por que é tão difícil, olhar nos olhos de quem amamos e falar “eu sou grata por te ter aqui”. Por que é tão difícil  agradecer pela oportunidade de fazer uma prova, mesmo que, tenhamos não atingido nosso objetivo. Por que é tão difícil agradecer pelo novo dia, agradecer pelo novo amor, agradecer pelo ar que respiramos ou pelos peixes que pescamos no dia anterior?Por que lamentamos a meta não cumprida no final do ano e não agradecemos as que cumprimos? Porque somos acostumados a obrigação do obrigado e sempre queremos mais e mais e mais. A normalidade raramente merece nossa gratidão. E ali encontra-se o erro, quando você vive com gratidão, pelas coisas mais simples que a vida proporciona, você realmente vive. A negatividade, a toxicidade, as notícias ruins afastam-se e você vive mais leve e agradece até o segundo que passa. Quando cai consegue compreender que foi  o necessário para se levantar, mais forte e com mais histórias. Até agradece pelas quedas. Até agradece pelos peixes de ontem, embora hoje não tenha pescado nenhum. Mas, tudo bem, é uma construção. Assim como nos acostumamos a agradecer por rotina, aos poucos, aprendemos a transformar da verdadeira gratidão a nossa rotina. Agradecer os peixes que já pescou é a recepção para os que virá a pescar, no amanhã. 

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