O tempo: a arte de não esperar

 


Estava esperando chover para conseguir escrever. Estava esperando o café terminar de passar, enquanto aproveitava o cheiro que inundava a sala. Estava esperando o notebook ligar. Estava esperando a ideia fluir. Esperando as palavras surgirem. Esperando, esperando e esperando a vida passar. Pois, nesse meio tempo todo, ela já passou um pouco mais. A ideia que quero trazer para reflexão hoje, caros leitores, é sobre a noção que temos do tempo. Recentemente, eu retornei da realização de um grande sonho que foi poder viver 6 meses como intercambista em Portugal. A realização de um sonho que levou anos para se concretizar. Anos de dedicação, muitas e muitas horas de estudo e organização, muito da vida para acontecer. E enquanto eu estive lá, todo dia se transformava em mês, pois a intensidade das experiências, a novidade contínua e a multiplicidade de pessoas e histórias que eu encontrava por dia transformaram a palavra “rotina” uma desconhecida pra mim.

O sentimento que eu carregava durante esses meses é que finalmente eu me sentia viva. A intensidade de se estar em um lugar que reúne pessoas do mundo inteiro, diversas línguas, culturas, jeito de viver e vivências faz você refletir sobre a própria caminhada e se sentir, ao mesmo tempo que deslocado, tão pertencente a si mesmo. E isso tudo corroborou para que os meses que vivi lá parecessem anos. Quando conto tudo que passei, todas as histórias e acontecimentos, acaba até assustando quem nunca experienciou algo assim, mas acredite, assusta mesmo quando os dias passam a ser dias e não apenas mais um risquinho no calendário.

Ao retornar à minha casa, no Brasil, ingressei diretamente em uma rotina corrida e diária que possuía antes de partir. Percebi, então, que os dias voltaram a ser apenas dias que correm furiosamente pelo calendário. E a ideia de que “nossa o tempo voou”, já não conforta mais e sim assusta, pois as histórias permanecem sempre sendo a mesma. O que me restou a fazer é tentar mudar essa visão rotineira e ver meu próprio lar como se eu estivesse em uma cidade nova das tantas que visitei.

O tempo é precioso, escasso e único. Mas, sempre há tempo para se ver algo novo, mesmo em frente de seus olhos costumeiros. Há sempre tempo de reconhecer o poder de um abraço, uma florzinha nova que nasceu no quintal, uma borboleta sobrevoando a sua casa. Há sempre o tempo de realizar nossos sonhos, de criar novos sonhos e vivê-los. Há sempre tempo de não viver esperando um tempo que não virá… Porque ele já está aqui.

 

Nadini Casali Bandeira

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