O texto participante do projeto "Texto de leitor(a) dessa semana é dessa escritora lindíssima que escreve com o coração sobre a reflexão que faz sobre a vida, Gabriela Kahl Kunkel.
Esse ano foi um ano daqueles. Tanta coisa ruim acontecendo em tanto lugar me fez começar a pensar onde o amor se enfiou, porque uma vez estava presente no meu cotidiano, em cada pessoa que eu via tinha um resquício seu, e agora nada. Todos os dias quando saio de casa, olho para os dois lados da rua e nem é por medo de ser atropelada. É vontade de enxergar o amor em qualquer lugar. É vontade de abraçar até faltar ar. É vontade de largar aquele “oi, sumido”. As vezes sinto que ele está me observando de todos os lugares e de lugar nenhum, ou que está testando até onde minha esperança em encontra-lo vai. A carência se abriga no meu coração nos momentos mais inoportunos do dia, quando me sinto vulnerável e sozinha. Nesses momentos, procuro o amor e o suporte que ele costumava me dar. Aquele suporte que era um abraço do amor disfarçado de gente. Aquele sorriso gostoso e sincero que se estampava nos lábios do “representante” do amor. Aquele olhar que era o amor. Mas eu não os encontro mais, não nesse ano.
Quando eu percebi essa falta, passei a pensar que isso significava que eu estava crescendo e que era assim mesmo. Por tempos tentei engolir a ideia de que nunca mais ia sentir ele perto de mim, porque essa fase já tinha passado. Comecei a tentar entender a vida adulta que estava se mudando do meu futuro para o meu presente, mas eu não consegui. Sempre me chamaram de enjoada, talvez seja bom, porque eu não quis engolir essa ideia. E foi aí, no exato momento da minha decisão, que eu entendi que não sou eu que estou mudando, nem o amor. São as pessoas. Todas elas.
Seria esse mais um efeito da globalização? Aproximar tanto um continente do outro e afastar cada vez mais as pessoas entre si? Avanços na tecnologia não deveriam nos unir mais? O sol bateu na minha cara e minha resposta apareceu instantaneamente: está tudo muito fácil. Facílimo. Mel na chupeta. A dificuldade em alcançar algum objetivo algum tempo atrás – fosse ele se inscrever em uma faculdade em busca de um futuro melhor ou escrever uma carta para se comunicar – acostumou todos com a ideia de que o esforço era necessário para alcançar uma vida legal. Agora, como tudo pode ser feito instantaneamente com a ajuda da tecnologia, o esforço é cada vez menor. Cada vez menor. Assim como a necessidade de contato entre as pessoas. Assim como o amor.
Eu já estava na minha quarta dose de cafeína, lamentando-me pela situação atual e triste por não entender onde foi parar o amor. A quinta dose acordou meus neurônios e também a raiva. Não, não é bipolaridade – pelo menos nesse caso, não. O que trouxe essa raiva foi encaixar as peças e concluir que as pessoas estão escondendo o amor. Estão escondendo-o dentro delas e não deixando ele sorrir para mim, me abraçar ou me consolar. “Eu odeio a humanidade”, pensei. Deitei na minha cama e continuei a refletir sobre a problemática em questão. Como já não aguentava pensar mais nisso, resolvi procurar outro assunto para me atormentar. Não consegui ir muito longe, mas mudei para “o que eu posso fazer para encontrar o amor novamente?”, então comecei minha lista mental.
A lista começou bem simples: em branco. E assim continuou por alguns dias. Até um certo dia. Um dia em que eu precisei do amor mais do que nunca nos últimos tempos. Deitei encolhida no chão do meu quarto, junto com sua sujeira, já que eu me sentia tão suja quanto ele. Foi o dia em que eu percebi que o amor dentro de mim estava tentando se esconder na obscuridade do meu ser justamente porque ele também precisava dos outros amores do mundo. Passei uns bons minutos olhando para o teto e coloquei uma música aleatória da minha playlist preferida em uma tentativa de nos animar. Para minha surpresa, “Fuck You” da Lily Allen começou a entoar em meus ouvidos. Apesar do nome parecer agressivo, a vibração dessa música é a mesma do meu amor. Então Lily, eu e meu amor começamos a cantar todos juntos. E quando a música acabou, meu corpo se encontrava em uma energia tão gostosa que eu não sentia há meses. Eu e meu amor estávamos bem, tudo que precisávamos naquele momento era gritar um pouco, nos reanimar. Olhei pela janela e vi muitas pessoas na calçada e, surpreendentemente, meu primeiro instinto foi descer e parar cada uma delas para desejar um bom dia, estampar um sorriso e dizer que as amava. Eu não fiz isso, mas quis muito.
Peguei meu bloquinho e encontrei A lista. Comecei a escrever sem parar todas as coisas que me deixam feliz e prometi inseri-las fortemente com as pessoas com quem convivo cotidianamente, porque – alerta de pensamento egoísta – talvez elas passassem a retribuir. Meu amor sorriu dentro de mim, todo bobo, afinal eu descobri a cura para a falta de amor no mundo, e não pretendo escondê-la.
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