O texto de hoje que está participando do Projeto "Texto de leitor(a)" foi escrito por uma mulher que coloca a alma em suas palavras e sempre me auxiliou a enxergar o mundo com mais sensibilidade. Millene Raquel Manthey que possui um blog de escritos, também, com textos emocionantes e que inspiram.
Deixo o link do blog anexado ao post: http://th-myeyes.blogspot.com
A ansiedade bateu em minha porta. Não abri, mas ela sorrateiramente pulou minha janela. Mãos para o alto, eu disse. Ela não obedeceu. Não é sua casa, não é seu lugar, mas faz questão de estar ali. Quieta no meu canto fiquei. Ela foi alimentado-se das coisas que haviam em mim. Primeiro, minha coragem. Foi-se toda em menos de minutos. Sentia que todo e qualquer mal me rondava. Estremeci. passaram-se horas e ali estava eu, brincando de estátua aos olhares de fora. Por dentro, o medo arrebatador me paralisara. Mal sabiam eles pelo que eu estava passando com a tal visita indesejada. Quanto mais ela se alimentava das coisas que ali estavam, mais ela crescia. A casa ficou pequena para nós duas. Expandiu-se tanto que fiquei eu encolhida num cantinho da sala, sem espaço para respirar. Ficando cada vez mais ofegante, senti que ia desmaiar. Ela ria, como se seu trabalho estivesse sendo muito bem executado. Em pânico, vi que a situação só pioraria. Então respirei fundo e, antes que o ar se tornasse ainda mais rarefeito, fiz uma mesa redonda com ela.
"- Então... eu aceito você aqui." - comecei. "- Aceita?" - indagou ela. "- Sim, pode ficar, desde que possas me dar um espaço a mais nessa casa.". Surpresa, ela fitou-me por alguns minutos e murchou gradativamente, eliminando tudo o que de mim se alimentara. Pasma, retomei o ar, visto que agora havia mais espaço ali. Vendo que ela não responderia, completei: "- Dos esforços para mandar-te embora, todos foram em vão, resolvi que seria mais prático aceitar-te aqui comigo, já que vi que gostas de estar em minha companhia.". Relutante, ela gagueja: "Nã-não era o que eu esp-perava... Mas vou ficar.". "Então estamos combinadas assim, você fica e está tudo bem" - respondi. Um silêncio pairou no ar. Ela murchara tanto que quase não a vi mais. Passaram-se os dias e não trocara mais uma palavra com a minha visitante (ainda não desejada, mas aceita). Um mês, e eu nem lembrara que estava dividindo minha casa com alguém. Lá de vez em quando, ela cutucava-me, e eu, retribuía. Certo dia, ela desapareceu, liberando todo o espaço da casa, deixando-me completamente livre de sua presença. Repensei e vi que ansiedade e eu cabemos na mesma casa sim, desde que eu a aceite e aprenda a lidar com a visita indesejada, pois, no final das contas, é só uma visita (e visitas sempre vão embora). Espero que dessa vez vá para sempre.
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