
Quando terminei de ler o livro Cidades de Papel do John Green pela terceira vez, pensei em como as entrelinhas bagunçaram a minha visão de mundo. Na realidade, pensar que nossas relações, nossas cidades, nossas vidas podem ser de papel assustou o coração de alguém que pensava que tudo era feito de aço. Não no sentido literal da coisa. Não sou leiga ao ponto de pensar que cada célula do meu corpo é composta por celulose e que nossa existência é originada de uma árvore derrubada. Não. Mas sou leiga ao ponto de pensar que tudo o que pensamos, o que queremos, o que amamos é tão fino e desmanchável como papel. E faz muito mais sentido pensar que somos um conjunto de linhas que se cruzam e são escritas pouco a pouco do que um material que seja impenetrável e resiste. Pense bem, o papel desmancha quando entra em contato com a água, não é mesmo? Assim como as lágrimas que derramamos são os sinais de que nosso coração está desmanchado, seja de alegria ou de uma dor indescritível. O papel pega fogo com mais facilidade do que o aço, assim como pega fogo nossos sentimentos quando algo que está fora da nossa trajetória de vida extremamente calculada, como se apaixonar por exemplo. O papel é maleável. Assim como nossa capacidade de ser. É amassado e desamassado. Assim como enfrentamos situações que pareciam ser impossíveis de serem vencidas mas que no final tudo fica bem. O papel forma dobraduras, assume forma de borboleta, de barquinho, de chapéu de pirata e múltiplas facetas. Assim como assumimos diversos papéis durante a nossa passagem como o de ser filho, ser pai, ser amigo, ser o super-herói na vida de alguém e o de ser você mesmo. Sei que, talvez, a mensagem do livro era de demonstrar como ser de papel é perigoso, como as relações são passageiras, como tudo é desmanchável, como nada é sólido e real. Mas, sinceramente, prefiro ser papel do que ser aço.
É com o papel que se fazem os livros de histórias e que permitem a mente viajar. É com papel que se escreve o bilhetinho de Eu te amo para os jovens apaixonados. É com papel que se faz os cadernos que levam a educação e o conhecimento para a vida dos que querem crescer. É com papel que se escreve as melhores histórias, os maiores segredos e se eternizam as lembranças. É necessário que sejamos de papel, porque a cada dia, escrevemos um pedaço de nossa história. Nossas linhas estão cheias de lembranças, de nomes, de medos e de nós. Nas entrelinhas, estão todos nossos sonhos, nossos desejos e tudo o que queremos que se transforme em poesia. Que sejamos ,então, eternos papéis que são tão fortes quanto aço. Aliás, papel velho é raridade. Já o aço, ao passar dos anos, enferruja e se perde nos ferro velhos da vida.
Um pouco de tudo que sou ou muito do que quero ser. Apenas um canto para poder ser através da minha escrita.
Lindo texto, Nadine. Continue escrevendo, tornando sua vida um pergaminho infindável. Bj
ResponderExcluirConcordo em gênero, número e grau! <3
ResponderExcluirThrough My Eyes