A palavra é tudo o que sou. Acredito que cheguei ao âmago de meu sonho juvenil nesse exato momento sentada em frente a uma grande janela que de um lado estende-se um rosado pôr do sol, ou melhor, pós pôr do sol, o crepúsculo, enquanto de outro as resplandecentes luzes da cidade. Escrevo e bebo café. Quando eu era criança, achava que isso tudo me bastasse para ser feliz. A ingenuidade de um sonho nos cega para a maior rasteira que sua realização não nos prepara para tomarmos. Quando realizamos o tal sonho ainda somos nós. Ainda nossa alma acompanha. O que isso quer dizer? Escrevo o que sou. E a Nadini do passado não percebia que tudo o que escrevia também era o que ela era e também atingia a supremacia de sua escrita. Ora, o que quero dizer, se apenas sentar nessa grande janela fosse a realização da minha vida, sobre o que eu escreveria? Apenas sobre o céu, apenas sobre as luzes dos prédios. Mas, o céu é o céu em qualquer lugar, embora mude suas cores e nuvens. E prédios, são prédios, com luzes, em qualquer cidade do mundo. Se eu não considerar que transbordo quando escrevo aquilo que sou e carrego, como que poderia ser feliz apenas ao escrever na grande janela. Essa janela poderia estar em Londres, se eu não tivesse a mim, nada seria escrito. Essa janela já foi de uma cafeteria no Porto, em Portugal e o que escrevi foi sobre o que sentia e não sobre a vidraça em minha frente. Essa janela poderia ser acompanhada de um notebook, poderia ser com papel e caneta, poderia ser em meio a uma floresta, não importa, se a janela do que vivo se mantém fechada. Esse é o problema de sacrificarmos quem somos pelos nossos sonhos. Ao chegar lá, para ser completo e atender a um milésimo da sua idealização, você precisará transbordar e aquilo que é vazio, não transborda uma sequer gota.
Com amor, Nadini.
Do coração ao papel.
Você transmite exatamente o que sente nas palavras, devia escrever mais…
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