
Muitas pessoas já devem lhe ter dito que seu projeto está
bom, entretanto, que falta um pouco mais de autenticidade. Devem lhe ter dito
que o seu texto, aquele que expressou os sentimentos mais ocultos do seu ser,
na verdade, apresenta uma semelhança muito grande com outro texto circulante
pelas vias sociais. Lembra-se daquela festa da cidade, em que todo mundo que
você conheceu quando tinha 5 anos, apertou suas bochechas e falou: Nossa, está
a cara da sua mãe? Lembra? E suas roupas? Já comprou uma blusa nova para não
ter que sair pelas ruas e se deparar com outras três pessoas usando igual? Bom,
autenticidade. Autenticidade é uma palavra que buscamos atingir a vida toda,
mas que se transforma em uma tarefa quase impossível em um mundo tão diversificadamente
igual.
Ela está logo no início do
dicionário, facilitando nosso formidável encontro, mas que frequentemente
ocorre a luz de velas em volta do caixão. Ademais, qual é o melhor momento para
as pessoas observarem nossa autenticidade do que quando morremos? Todos
observam nossa trajetória, seja ela longa ou curta. Todos separam e reparam nos
detalhes. Todos formulam um filme com um fim trágico e pensam: essa pessoa era
realmente diferente dos outros. Mas se formos parar para pensar, por mais que
busquemos uma vida inteira essa tão sonhada autenticidade, no fundo somos todos
iguais. Não, eu não estou sendo autêntica ao escrever esse texto sobre
autenticidade. Devem existir mais de mil textos sobre esse tema pelo mundo
todo. Na realidade, em nenhum momento somos cem por cento autênticos. Ao
escrevermos um texto estamos apenas trazendo todas as ideias já lidas, vistas
em filmes ou formuladas por outros autores. Esses autores fizeram o mesmo
analisando outros autores e assim segue um ciclo sem fim. A ciência mesmo
explica que quando dormimos, nunca sonhamos algo totalmente estranho, apenas
sonhamos com lugares que já avistamos ou pessoas que cruzaram nosso caminho ao
decorrer da vida inteira. Então, a roupa que você usa e que define seu estilo
é, na realidade, uma união de outras roupas e outros estilos já existentes. As
leituras que você faz. Os filmes que você assiste. A cultura que você e todos
os outros possuem, por mais autêntica e singular que é nunca servirá para te definir
completamente. Somos todos uma paráfrase do universo em si. Nascemos sem fé,
sem religião, sem leituras feitas, sem conhecimento, nus de corpo e alma.
Aprendemos a amar. Aprendemos a caminhar. A falar e a escolher. Aprendemos a
ser. E somos constantemente. Ninguém é autêntico por inteiro, assim como,
ninguém é alguém para sempre. Portanto, não passe a vida toda buscando pela
singularidade. Não faz mal se você não é extraordinariamente diferente dos
demais. Consequentemente, só por existir você estará sendo totalmente diferente
do outro. Preocupe-se em ser para os que o amam. Em ser para os que admiram essa
paráfrase e intertextualidade de mundo que você representa. A autenticidade é verdadeira quando vivida,
pois na morte sim, somos todos lembranças iguais.
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